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A DOCE LEVEZA DE VIVER BEM

Felicidade

 

Ninguém quer em sã consciência ser infeliz. As pessoas buscam a felicidade como se fosse um ponto de destino, de chegada. Algo pronto que pudesse ser encontrado fora de si, nas coisas, nos relacionamentos, prazeres, passeios, nos lugares a visitar enfim em tudo aquilo que é novidade e que possa ser interessante ou excitante. Muitas vezes identificada com euforia, em geral é buscada com avidez e como se fosse algo imperativo que estivesse que estar presente o tempo todo e de preferência ser mostrada ao mundo por fotos e postagens nas redes sociais, já que as pessoas também querem testemunhas da sua “felicidade”.

Porém, há nisso uma confusão conceitual para dizer o mínimo. Confunde-se Felicidade com satisfação de desejos. Não acho que exista nada de errado em desejar. O desejo é uma força impulsionadora importante mas desde que a gente viva isso com moderação, sem nos escravizarmos já que é da própria natureza do desejo, a sua efemeridade. Amamos o que desejamos até conseguir o que queremos, mas não demora muito para ficarmos enfadados e passar a desejar outros objetos e assim o ciclo se repete infinitamente.

Satisfação de desejos nada tem a ver com Felicidade. A Felicidade é fruto de uma construção interna, uma alegria genuína no próprio caminhar, no construir a si mesmo e portanto, não se confunde com euforia. É algo que está dentro de nós e não o tempo todo. Aliás, só temos a percepção da Felicidade, porque também experienciamos momentos de tristeza, frustração e diminuição de potência. A consciência se dá porque existe o contraste.

O tema me remete à metáfora do peregrino e do turista trazida pelo pensador polonês Zygmunt Bauman quando diz que o peregrino se dispõe a trilhar um longo caminho, às vezes acidentado… Aprecia pacienciosamente todo o trajeto, não visando apenas o ponto de destino. Até mesmo nos contratempos da viagem, busca nisso uma experiência transformadora. Traz de volta na bagagem não apenas fotos, cartões postais e souvenires, mas ele em si retorna enriquecido. Já o turista tem pressa em chegar, se algo não sai conforme o esperado, sente-se frustrado e vai logo reclamar. Em geral, não assimila a riqueza cultural dos lugares por onde esteve ou das pessoas com as quais encontrou. Visita aqueles pontos turísticos onde todos vão e faz questão de postar cada prato que come ! Tem uma pressa em chegar ao maior número de destinos possíveis e uma sanha consumista. Traz a mala pesadíssima de presentes a todos mas ele em si, volta do mesmo jeito que foi.

A Felicidade a meu ver exige introspecção e protagonismo. Está mais próxima da postura do peregrino que até pode em certos momentos, se entreter mas faz da viagem, acima de tudo uma busca existencial, de construção de sentidos e de descoberta de si mesmo.

Fonte da imagem: Verdilhão Pássaro Sentado – Foto do Pixabay.com