Uma coisa é a visão esperançosa, sempre muito bem vinda a meu ver, quando acompanhada de ações concretas na direção daquilo que se deseja, ou seja quando não se trata de mero pensamento mágico ou ainda, quando nos leva a questionar nossa forma de pensar sempre que há alguma distorção, generalização indevida ou “catastrofização”.
Outra coisa é o “joguinho do Poliana ou do contente” em que a pessoa não toma contato com seus sentimentos e finge para si mesma que está tudo bem quando não está. Ela não se autoriza a sentir às vezes porque lhe foi ensinado que tal e tal sentimento é feio ou prejudicial de alguma forma. Esta postura revela uma positividade tóxica porque quando não nos autorizamos a sentir estes sentimentos, em geral eles persistem e acabam nos levando a comportamentos compensatórios como compulsões por comida, bebida, drogas, compras ou sexo no vã afã de preencher um vazio que não pode ser preenchido desta maneira.
Como dizia Jung, “o que resiste, persiste”; daí a importância de sentirmos os próprios sentimentos, sejam eles quais forem, até que naturalmente, não tenhamos mais esta necessidade. Não me refiro a uma atitude masoquista pois é perfeitamente possível fazer isso a partir de um certo distanciamento, isto é sem nos identificarmos com eles. Não somos o que sentimos ! Eles apenas sinalizam o que nos incomodou e sem que haja primeiro este reconhecimento, esta legitimação do nosso direito de sentir o que sentimos, não há superação possível.
Não é preciso nos deter em demasia em estados emocionais que de fato podem ser prejudiciais até pra nossa saúde mas antes é necessário reconhecê-los.
A positividade tóxica também pode ocorrer por parte daqueles que nos ouvem. Como dizia Rubens Alves, nem todo mundo consegue exercer a arte da “escutatória”. Fala-se muito e escuta-se pouco. Por vezes, a história incomoda e aciona gatilhos de modo que as pessoas, até mesmo as bem intencionadas, se apressam ao tentar ajudar e criar uma ressignificação em momentos em que tudo o que o outro precisa, é apenas sentir-se ouvido.
Terapeutas por certo não estão imunes a este equívoco de não respeitar o “timing” do paciente/cliente. De fato, é um desafio porque o que cada um sente é único daquela pessoa e por mais que se tenha empatia, o sentir em toda a dimensão e sutileza que lhe são próprios, é de cada um e intransferível.
Contudo, vale sempre o esforço da acolhida quer estejamos no papel de terapeutas, amigos, familiares e acima de tudo, lembrar que ainda que não tenhamos no outro este ombro amigo e não julgador, podemos acolher o nosso próprio coração de forma amorosa e compassiva !
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(Imagem de Felipe por Pixabay)