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A DOCE LEVEZA DE VIVER BEM

O ego e a falácia das suas identificações

 

Muitos de nós extraímos nosso sentido de identidade a partir de nossas circunstâncias e ficamos a mercê de critérios superficiais e transitórios muito ligados ao ego, à  persona que mostramos para o mundo, ao nosso ser histórico, àquilo que nos aconteceu ou ao sentido de pertencimento que extraímos das famílias e da posição que ocupamos na sociedade.

Vários itens compõem este critério identitário externo tais como, títulos acadêmicos,  prestígio, poder, aquilo que o dinheiro pode comprar, as viagens que fazemos, a casa ou o bairro onde moramos, as roupas com ou sem grife que vestimos, o carro que temos ou não temos e certamente também, o nosso corpo, a nossa aparência.

Assim, quando compramos uma roupa, o que estamos adquirindo não é apenas uma peça do vestuário que vai cobrir a nossa nudez mas “compramos” também o seu valor simbólico, o status que pode oferecer, um sentido de pertencimento a um grupo ou a um estilo de vida que temos ou aspiramos.

Nosso ego tende a se sentir bastante inflado quando adquirimos algo ou temos uma experiência que é especial, única ou pouco acessível a maioria das pessoas, como se o nosso valor fosse estabelecido na comparação com os outros. Assim, se a pessoa adquiriu mais bens ou fez viagens mais variadas e interessantes é como se isso implicasse automaticamente em ser mais interessante como pessoa. Mas nada pode ser mais enganoso e obliterante.

A identificação do ego com estas circunstâncias pode ser tão grande e  escravizante que quando se perde a posição que se tinha e isto pode dizer respeito a qualquer coisa, desde a perda de um emprego, a uma perda estética, nos sentimos muitas vezes sem chão, sem referência. Não estou aqui me referindo apenas a fatores objetivos ou a dados de realidade que a perda de um emprego por exemplo pode acarretar, muitas vezes até comprometendo a sobrevivência. Eu me refiro, a uma sensação muito mais devastadora, de vazio, de sentimento de insuficiência que vai  além da perda material.

E quanto mais a pessoa se identifica com estas circunstâncias ou mede o seu valor como ser humano a partir desses critérios, tanto mais difícil se torna desenvolver a resiliência e a capacidade de elaboração dos lutos implicados em eventual perda.

Sem dúvida, o ego é uma instância psíquica  importante, uma vez que nos ajuda a organizar nossas rotinas e a perseguir objetivos. Porém, esta super-identificação é problemática e via de regra, reducionista. Não somos a nossa circunstância nem aquilo que os outros nos impingiram: somos a consciência que vivencia tudo isso e que tem a capacidade da transcendência e da construção de novos significados (Ver Eckhart Tolle, in “Conscious Manifestation” – Special Live Teaching – Youtube).

Porém, isso não vem de graça. Para acessarmos aquilo que Carl Gustav Jung chamava de “self constelado” precisamos trabalhar na direção de uma ampliação de consciência, de um olhar reflexivo sobre aquilo que realmente nos constitui para além das aparências e necessidade de agradar ou de nos conformar a padrões sociais preestabelecidos. Autorreflexão e autoaceitação incondicional parecem ser as chaves mestras às quais temos acesso,  via de regra, depois de uma boa dose de sofrimento.