A nossa personalidade não é um todo coeso, coerente como pode parecer superficialmente…Temos diferentes partes internas às vezes completamente contraditórias que coexistem e tentam conversar entre si.
Tratam-se de mensagens contraditórias que geram dissonância e muita ansiedade e angústia. Existem diferentes tipos de dissonância. Por exemplo, no campo emocional, é possível amar e odiar a mesma pessoa. Por vezes, querê-la ao nosso lado e em outros momentos, buscar a máxima distância possível.
Por vezes, a dissonância é experienciada em termos volitivos. Queremos emagrecer e também comer à vontade.
A incongruência pode assumir também outras formas como valores incompatíveis. É como se fosse um “cabo de guerra” com forças contrárias e igualmente potentes, cada qual puxando para um lado diferente.
Há também a dissonância cognitiva muito comum nas situações de trauma em que na mesma pessoa estão reunidas uma figura de generosidade e ao mesmo tempo, de abuso. Ficamos confusos porque a mesma mão que afaga é a mesma que apedreja e aí o que pensar ?!
Na tentativa de aplacar esta angústia, criamos narrativas ilusórias… Mentimos para nós mesmos, racionalizamos, situamos o ocorrido numa outra moldura, no afã de evitar um “mal maior” que é o desafio de termos que lidar com uma realidade que tem as suas incongruências e para a qual talvez não nos sintamos suficientemente preparados.
Usamos vários mecanismos infantis de defesa para “justificar” o injustificável e assim, criar um todo coeso. É comum neste contexto, criarmos desculpas, colocarmos “panos quentes”, valendo-nos de pensamentos como: “ele ou ela não quis dizer isso, não quis magoar ou fez tal sugestão por pensar que seria o melhor pra mim…e etc”
Projetamos também nos outros, uma responsabilidade que pode ter sido nossa em grande parte e ao externalizarmos o “locus de controle”, fica mais fácil nos apresentar como vítimas…
Estas ambivalências podem e estão presentes não apenas no plano intra-psíquico como também nas várias instituições, ideologias, na política, nas religiões.
Criamos uma teoria para explicar e acomodar estas partes ainda que a custa de mentiras muito convenientes. Há situações em que o uso desses mecanismos de defesa tem um papel ainda mais crucial que são aquelas que envolvem laços afetivos ou de dependência.
E de acordo com o enquadre simbólico que damos, com o uso que fazemos da linguagem e dos simbolismos nela implicados, tenderemos a agir de uma ou de outra forma !