Existem vários fatores que podem interferir na motivação por exemplo, depressão, ansiedade, obesidade, doenças em geral, nível muito aumentado e crônico de estresse, falta de sono seja pela privação ou pela insônia, horário do dia, o tipo de atividade em si, para citar alguns exemplos.
Alguns fármacos também podem interferir na motivação seja para diminuí-la ou mesmo aumentá-la. Porém, sempre que o aumento se dá por uma via química e artificial, existem certos riscos por exemplo o de criar um nível tão elevado de dopamina (que está associada a motivação) ao ponto de criar uma redução da sensibilidade do organismo que pode passar a precisar de níveis cada vez mais elevados da droga para produzir o mesmo efeito (Ver vídeos do neurocientista Andrei Mayer, disponíveis no Youtube). Sendo assim, é fundamental que qualquer suplementação neste sentido seja acompanhada por um médico que possa fazer uma avaliação adequada sobre se há ou não indicação e até que ponto isso deve ser feito.
Tem muita gente que acha que enquanto a motivação não vem, não é possível fazer nada, como se ela fosse uma dádiva que tivesse que cair do céu. Porém, não é bem assim. Mesmo em pessoas clinicamente deprimidas ou distímicas, é possível começar a fazer algumas atividades mais simples, menos custosas em termos de gasto de energia e de preferência, aquelas que antes davam prazer. Uma vez iniciadas, naturalmente começam a trazer certas consequências reforçadoras num ciclo “virtuoso” que depois tende a se retroalimentar, contribuindo para que a pessoa saia daquele estado de prostração.
Diante da desmotivação inicial para uma tarefa, a disciplina pode ser importante porque nos permite dar este primeiro passo.
A motivação por sua vez, está muito ligada ao sistema de recompensas, aos motivos pelos quais fazemos ou deixamos de fazer alguma coisa. O ser humano age em função das consequências reforçadoras que pode obter e que variam imensamente de pessoa pra pessoa pois o que pode ser reforçador pra um, pode não ser pra outro. Mesmo nós podemos experimentar oscilações ao longo do dia ou mesmo, a depender da fase de vida em que nos encontramos.
Reforço, no entanto, pode ter um sentido bastante amplo ! Pode ser algo prazeroso, significativo, pode ser o alívio de uma dor, a diminuição do nível de ansiedade ou de algum desconforto, pode ser a simples satisfação de uma necessidade fisiológica como fome, sede, sono, sexo, um banho gostoso enfim, muitas coisas podem ter este caráter de consequência favorável que nos motiva a uma ação que vai envolver algum esforço físico ou mental.
O grau de importância e intensidade do reforço também interfere no quão motivados estaremos para certa tarefa. Obviamente, quando o reforço é maior ou entendido como mais significativo, isto tende a nos motivar mais. Gratificações inesperadas e/ou intensas também nos mobilizam.
Pode ocorrer também um pareamento entre um determinado contexto (aquilo que na psicologia comportamental chamamos de “estímulo antecedente”) no qual uma certa ação ocorre e a consequência reforçadora obtida. Se este pareamento se repete, criamos um condicionamento tal que diante daquele mesmo contexto, nos motivamos para aquela ação ainda que o reforço se torne intermitente, isto é não se repita sempre.
A proximidade ou não da consequência reforçadora em relação ao tempo, também é relevante pois a gratificação imediata tende a gerar um nível maior de dopamina no cérebro, o que controla mais o nosso comportamento. Essa é a razão pela qual é mais difícil a persistência em tarefas cuja consequência reforçadora não é tão clara ou está postergada no tempo. Podemos citar vários exemplos disso como as dietas ou a reeducação alimentar, a prática de exercícios físicos, o aprendizado de uma língua etc. São situações que nos cobram um tributo imediato mas trazem consequências favoráveis apenas a médio e longo prazos.
Isto não significa que não possamos aprender a adiar gratificações. Esse, aliás, é um treino de autocontrole importantíssimo e que pressupõe a combinação de dois elementos: a disciplina que nos permite fazer o que precisa ser feito e “pagar o preço” mesmo quando não estamos com vontade ou temos eventualmente um desejo em sentido oposto e a motivação em si que tem a ver com a construção de sentido e a visualização do resultado pretendido.
Ou seja, muitas vezes, temos vozes incongruentes dentro de nós mas não precisamos ser escravos do desejo. O importante é ter claro o que importa e qual o preço que estamos dispostos a pagar por cada escolha a cada momento.
Para termos motivação, é importantíssima a narrativa que criamos em torno do que estamos fazendo. Se não visualizamos um objetivo claro e compensador ainda que a longo prazo, não tem porque nos engajarmos numa tarefa custosa que demande esforço e constância. Daí também a importância de prestarmos atenção à ligação entre o que estamos fazendo e as consequências positivas que experienciamos. Se esta correlação não está clara também é mais difícil nos mantermos motivados e isto pode valer para qualquer coisa como terapia, prática de exercícios físicos etc.
O ser humano tem a incrível capacidade de criar narrativas, de usar a sua criatividade e imaginação para projetar o futuro que deseja para si e construir um sentido maior para o que está fazendo. E ainda que esta consequência se situe num futuro distante e incerto, uma vez que conseguimos mentalizá-la, isto nos serve de impulso poderoso capaz de ir direcionando a nossa ação para o fim almejado.
Esta consequência futura, contudo não precisa ser certa, isto é garantida. Pelo contrário, se a priori a temos como “certa”, então para que o esforço ? Por outro lado, se duvidamos da nossa capacidade de chegar lá, então isso também não contribui para a motivação. O ideal é que seja algo incerto porém entendido como possível.
A nossa mente também costuma fazer um cálculo que leva em conta o significado e tamanho da recompensa versos o esforço que irá pressupor. Se esta equação não tem um equilíbrio, se o reforço não é tão compensador ou se exigirá uma energia muito grande, em termos de tempo, dinheiro, saúde etc tendemos a deixar aquilo de lado.
O importante é procurar desenvolver uma percepção de quais são os nossos valores, as nossas necessidades a cada momento, o que nos encanta, o que buscamos por exemplo em nosso tempo livre… São perguntas que ajudam no autoconhecimento, na identificação daquilo que representa a nossa “eudaimonia” que é uma palavra de origem grega associada à busca do que nos faz feliz.
Evidente que não é possível sentir-se feliz o tempo todo, nem achar que podemos realizar apenas aquelas tarefas que nos são prazerosas…Porém, quando construímos um sentido para nossas ações, podemos ir aos poucos direcionando nossa vida para algo mais satisfatório, além de nos tornarmos capazes de encontrar motivação no trabalho que tem que ser feito.