A gente se defronta com o luto sempre que há uma perda, seja a perda de um objeto, de uma situação, de uma pessoa, um trabalho, um lugar, um status, de uma parte do nosso corpo… Enfim, é uma experiência cotidiana e no entanto, às vezes extremamente dolorosa a depender do grau de identificação e de investimento libidinal no “objeto perdido”.
O simples fato de fazermos escolhas nos leva a angústia, uma vez que toda escolha pressupõe perdas. Perde-se algo conhecido que tinha aspectos bons e maus mas que já não nos fazia mais sentido, ao mesmo tempo em que nos lançamos a um futuro incerto e isto é um tanto quanto difícil, pois requer um grau muito grande de coragem e de aceitação de um processo que não é linear, tem idas e vindas, avanços e regressos, daí a célebre frase de Jean-Paul Sartre de que somos “condenados a ser livres”.
Não há nada de patológico no luto em que às vezes, sentimos que o “mundo ficou menos colorido”. Isto é normal, o anormal é fingir que não há dor ou medicalizar uma reação dolorosa que é plenamente compatível com o contexto. Mas é evidente que às vezes, o processo de luto se arrasta, se complica, podendo traduzir-se numa melancolia em que devido ao alto grau de identificação do sujeito com o “objeto” perdido, a perda é vivenciada não como um empobrecimento do mundo mas como uma perda de si mesmo ou ao menos de uma parte significativa de si, como nos lembrava Sigmund Freud.
O processo de elaboração do luto não tem um prazo certo e pode variar enormemente, a depender da situação e de cada um, dos recursos psíquicos que desenvolvemos ou não. Porém, ele é fundamental para darmos espaço para a entrada do novo em nossas vidas.
Para tanto, acredito ser primordial aceitar a transitoriedade de todas as coisas e a incerteza inerente à nossa condição humana. O nosso grau de controle é sempre relativo e devemos limitar os nossos esforços apenas àquilo que depende exclusivamente da gente como nos advertiam os estoicos.
Não dá pra estar feliz o tempo todo. É preciso aceitar a nossa trajetória e entender que a vida não oferece tudo o que gostaríamos, mas oferece algumas coisas e como é bom quando aceitamos o que se apresenta, procurando extrair o melhor de cada experiência, fazendo disso uma ponte para a construção de um eu mais consciente, maduro e integrado.