A nossa relação com o alimento não tem só a ver com a fome fisiológica que precisa ser satisfeita. Muitas pessoas usam a comida como um “remédio” para lidar com males emocionais como podemos fazê-lo também com o álcool, drogas ilícitas, cigarro ou com outros comportamentos compensatórios como compras compulsivas etc.
Comidas em especial gordurosas, salgadas e carboidratos liberam substâncias químicas que nos acalmam. O chocolate por exemplo é clássico por estar associado a sensação de prazer e bem estar. Desde muito cedo pois, acabamos por usar a comida como um meio de enfrentamento de situações estressantes, o que via de regra, no curto prazo, traz um alívio da ansiedade, uma vez que naquele momento, não costumamos pensar muito sobre se nosso corpo precisa ou não daquelas calorias todas. No médio e longo prazo, é que acabamos tendo inúmeros efeitos indesejáveis como ganho ou perda excessiva de peso, um corpo fora de forma, doenças como o diabetes tipo II além do sentimento de culpa pela falta de autocontrole.
Devido a este “comer emocional”, muitos acabam desenvolvendo transtornos alimentares secundários como compulsões, bulimia nervosa, anorexia e outros. O que quero dizer por secundários é que em geral são sintomas ligados a questões emocionais mais profundas muitas das quais inconscientes e que precisam ser endereçadas. Não adianta apenas recorrer a cirurgia bariátrica ou mesmo aplicar técnicas comportamentais de mudança de hábitos, se não olharmos para aquilo que levou a pessoa a usar esta estratégia de “coping”.
Importante pois saber identificar quando o nosso corpo está com fome mesmo e quando é uma “fome” emocional que não será solucionada verdadeiramente ao “comermos” ou “coisificarmos” os nossos sentimentos e conflitos. Criar um espaço de reflexão e identificação do que estamos sentindo parece ser importante para perceber os gatilhos que estão propiciando o comportamento desregulado.
Este tempo é importante porque sempre que criamos um hábito ruim esteja ele relacionado a comida ou não, é difícil modificá-lo pois é como se nosso cérebro tivesse criado um caminho neurológico que tende a ser repetido num verdadeiro automatismo. É por isso que é muito importante prestarmos atenção àqueles comportamentos que praticamos repetidas vezes pois podem se transformar em maus hábitos difíceis de serem superados.
É mais fácil substituir comportamentos disfuncionais por outros mais saudáveis do que simplesmente tentar apagar um mau hábito ou um vício quando nosso cérebro já aprendeu a se aliviar daquela maneira.
Quando ao invés de cedermos ao impulso do comer emocional, paramos para identificar o que está acontecendo, fica mais fácil evitar o contexto antecedente e aí sim, fazer as substituições que se fazem necessárias. Se associamos dois estímulos e queremos modificar um deles, é importante que “quebremos” este elo. Assim, por exemplo, se tenho vontade de fumar após tomar café e quero parar de fumar, é importante também rever o café. Se quero deixar de comer doce após a refeição, o acesso ao doce no ambiente deve ser dificultado e assim por diante.
E para que todas estas mudanças sejam mantidas a longo prazo, é fundamental que traduzam um estilo de vida mais saudável. Soluções radicais como dietas rigorosas e muito restritivas não se sustentam com o tempo e ao contrário, a tendência do nosso cérebro é criar algum tipo de compensação posterior que põe a perder todo o esforço. Não há soluções mágicas ou que se mantenham sem um esforço persistente às vezes por toda a vida.