Existem várias compulsões que embora não se relacionem a algo ilícito ou desencorajado socialmente, do ponto de vista comportamental têm uma dinâmica bem semelhante a qualquer vício, o que requer uma conceituação mais ampla seja visando a compreensão seja o tratamento.
Vício pode ser entendido como qualquer comportamento capaz de trazer prazer e/ou alívio a um sofrimento no curto prazo mas que no médio e longo prazos, são prejudiciais… Geram “craving” ou seja um desejo muito intenso e às vezes incontrolável de recorrer àquela fonte de gratificação a despeito dos efeitos danosos. E claro, se estamos falando de uma droga, capaz de desencadear toda uma cascata bioquímica, podem provocar tolerância em que para obtenção do mesmo efeito, doses crescentes são necessárias, chegando a um ponto em que é buscada não propriamente porque esteja sendo fonte de prazer mas apenas para evitar o incômodo da abstinência.
O objeto da compulsão pode ser bem variado desde drogas ilícitas ou lícitas, prática de jogos de azar, consumismo excessivo, compulsões alimentares, por exercícios, internet e até mesmo pelo trabalho, se esta é uma via de empoderamento para o indivíduo.
Desde que o mundo é mundo, adotamos estes comportamentos como “remédios” para as dores emocionais que não conseguimos processar de outro modo. Muitos relatam um alívio da ansiedade, da solidão, um escapismo ou atenuação do sofrimento ou até mesmo algo capaz de oferecer um senso de controle sobre a situação.
Para tratá-los, existem técnicas comportamentais variadas como por exemplo, no caso das compulsões alimentares, o controle de estímulos, evitando que certos gatilhos estejam muito acessíveis. Outros recursos como mentalização ativa, meditações, substituição por rotinas saudáveis, exercícios físicos etc, de fato, funcionam quando a pessoa ainda que no início desmotivada, começa a engajar-se nestas práticas mais saudáveis, passando a relacionar a mudança de hábito com um maior bem-estar.
Porém, não podemos esquecer que as adições são apenas sintomas e que é fundamental endereçar a dor emocional que está por detrás. Do contrário, corremos o risco de ficar apenas “enxugando gelo”.
Ampliar este olhar e evitar o julgamento moral e a culpabilização da própria pessoa que está em sofrimento, é a meu ver fundamental para o sucesso desta empreitada.