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A DOCE LEVEZA DE VIVER BEM

Autocompaixão

A autocompaixão guarda uma relação com a nossa capacidade de ter compaixão pelos outros embora sejam conceitos diferentes. A compaixão pelos outros está muito baseada na nossa capacidade de empatia, de nos colocarmos no lugar da outra pessoa a fim de que possamos não apenas compreender o seu sofrimento de um ponto de vista cognitivo mas também senti-lo e quem saber, fazer algo para minimizá-lo.

Pessoas com excesso de empatia podem envolver-se tanto com os dramas e sofrimentos alheios que isso pode levá-las a uma exaustão emocional.

Porém, a autocompaixão é diferente embora possa de algum modo contribuir para uma atitude compassiva com outros. Pressupõe uma presença amorosa e gentil para conosco mesmo. É uma atitude que permite que a gente fale conosco de forma respeitosa, com consideração tal e qual faríamos a um amigo. Na autocompaixão, dirigimos a nós mesmos palavras de encorajamento, acolhimento, usando um tom de sincera amorosidade e autoaceitação.

Não é algo que se confunda com pena de si mesmo nem com autoindulgência. A pena surge com a não aceitação da realidade. Ninguém gosta quando percebe que os outros têm pena de si, porque a pena pressupõe uma relação de assimetria em que aquele que tem pena do outro se sente numa condição superior. Isto não é bom nem correto porque ninguém é a sua circunstância por melhor ou pior que seja !

Do mesmo modo ter pena de si mesmo é no mínimo, contraproducente. A pessoa se coloca numa posição de vítima como se aquilo que lhe aconteceu não pudesse ter ocorrido, “esquecendo-se” de que coisas boas e ruins simplesmente acontecem na vida de todo mundo. Há na pena uma certa comparação com a situação de outras pessoas e ao mesmo tempo uma indignação do tipo: Isso não podia ter acontecido comigo, afinal não mereço !

A pena quer dirigida a outrem quer a nós mesmos não estimula a “virada de jogo”, a atitude de assumir a autoria da própria narrativa.

Autocompaixão também não é autoindulgência. Segundo o dicionário Houaiss, a autoindulgência é a disposição ou tendência a perdoar as próprias culpas ou erros.

Na autocompaixão, porém a pessoa é plenamente capaz de reconhecer as suas faltas e até de se sentir culpada, o que está na base da iniciativa de reparação, não se confundindo  com vergonha tóxica que reflete a forma como percebemos ou supomos o olhar do outro sobre nossas imperfeições, mas isto é uma outra história…

A pessoa com autocompaixão, percebe onde errou e busca consertar mas não se chicoteia por isso, não se confunde com a crítica que fez porque percebe que a falta é pontual e não algo que a defina como sujeito.

A Drª Kristin Neff (PHD), estudiosa do tema, na sua palestra “Self-compassion” (In Action for happiness – Disponível no Youtube) cita estudos correlacionando a autocompaixão com uma melhora da resposta imunológica, diferenciando-a da autoestima que parece depender mais de critérios externos. Ou seja, na autoestima, a pessoa usa referenciais externos na autoavaliação que faz. Já a autocompaixão teria raízes na forma como a pessoa se relaciona consigo mesma, com as suas imperfeições ou insuficiências a partir de parâmetros internos.

Kristin Neff na mesma preleção nos conta que certo dia, ela cantava uma música qualquer na presença de seu filho e foi logo se desculpando ao dizer que ela era uma péssima cantora e o menino então lhe respondeu : “Não, mamãe, você não é uma cantora ruim, apenas não está cantando bem !”

Achei uma graça este exemplo porque retrata bem a atitude da pessoa capaz da autocompaixão. Não “passa pano”, se olha de frente, assume aonde errou mas sem se condenar por isso.

(Fonte da imagem: https://www.bing.com/images)